sexta-feira, 16 de março de 2012

A Rodovia Panamericana - Um sonho de três brasileiros

Mapa da Rodovia Panamericana - Fonte: Wikipedia
Com uma extensão de 48.000Km, este sonho colossal de unir as três américas através de uma rodovia surgiu como idéia ainda em 1889 na Primeira Conferência Panamericana, mas nada foi feito de fato. Na quinta Conferência Internacional dos Estados Americanos, em 1923, a idéia finalmente tomou corpo como uma grande rodovia de uma unica rota. Em 1925, em Buenos Aires, foi realizada a primeira Conferência da Rodovia Panamericana, de onde a construção finalmente foi aprovada e começaram os projetos e sua posterior construção, ligando a cidade de Fairbanks, no Alasca, até Quellón, no Chile e o extremo sul da Argentina, em Ushuaia. O México foi o primeiro país a terminar sua parte, ainda em 1950.
Embora a idéia fosse construir uma unica rodovia, ela acabou como um projeto abstrato formado por inúmeras rodovias interligadas e construidas em tempos, climas e terrenos diferentes, tanto que, oficialmente, não existe uma designação oficial para a rodovia, nem uniformidade. Algum trechos são instransitáveis e outros extremamente perigosos.

A participação brasileira

Para quem estranha que a Panamericana não contemple o Brasil, cabe aqui então o verdadeiro motivo deste post. A participação brasileira nesse sonho. Foram três brasileiros os que realmente puseram a "mão-na-massa" para construir a rodovia que ligaria as três américas: A Carretera Panamericana.  Ainda em 1928, apoiados pelo então presidente Washington Luís, montaram a “Expedição Brasileira da Estrada Panamericana”, partindo do Rio de Janeiro, comandada pelo Tenente do Exército Leônidas Borges de Oliveira, apoiado pelo observador Francisco Lopes da Cruz e pelo mecânico Mário Fava, a bordo de dois calhambeques Ford Modelo T, batizados de Brasil e São Paulo, rumo a Nova Iorque. Demoraram 10 anos para completar a missão.
Ford Modelo T
Depois de 28.000km abertos a base de pás e picaretas através de 15 países, chegaram a Nova Iorque, para então retornar ao Brasil. Nossos aventureiros puderam conhecer, nesse longo caminho, o intocável Eliot Ness, o revolucionário nicaraguente Augusto César Sandino, o Presidente Norte-americano Franklin Delano Roosevelt e o pioneiro da indústria automobilística, Henry Ford, que teria oferecido uma fortuna pelos dois valentes calhambeques, a qual recusaram, entre muitos outros.
De volta ao Brasil, foram recepcionados pelo presidente Getúlio Vargas, que recebeu uma cópia do projeto. E por indicação do Marechal Rondon, o comandante da expedição,
o tenente Leônidas, foi nomeado cônsul do Brasil na Bolívia. Por onde passavam, Leônidas, Francisco e Mário eram recebidos como verdadeiros heróis pelas populações locais, que ofereciam apoio logístico e financeiro.
Os trechos mais difíceis do percurso foram os caminhos quase intransponíveis de alguns países da América do Sul atravessados pela Cordilheira dos Andes, como Equador, Bolívia e Colômbia, onde quase morreram devido ao frio e aos abismos das estradas. Além disso, transpuseram selvas, rios caudalosos e pântanos. Em 16 de abril de 2008, em comemoração aos 80 anos do evento, partiu também do Rio de Janeiro uma nova expedição com oito brasileiros, a bordo de duas Ford F-250. O destino foi Dearborn, Michigan, onde, em outubro, foram festejados os 100 anos do Ford Modelo T.
O escritor Osni Ferrari conta em detalhes a aventura desses três heróis brasileiros em seu livro "Eu não sabia que era tão longe". Num dos trechos, é contado como era a dificuldade de combustível (estamos falando de selva amazônica em 1928).
"[...Mário retirou a gasolina que havia no tanque do Brasil e em seu lugar colocou pouco mais de um litro da aguardente. Tentou ligar o carro e este, ainda com o motor embebido pela gasolina que permanecia nas tubulações do motor, começou a funcionar, porém, com a chegada do álcool no seu dispositivo de queima, não sustentou a marcha e apagou. Mário adicionou um copo da gasolina que havia retirado e, dessa vez, ao acionar a ignição, percebeu que o motor respondeu positivamente.
― Vai funcionar. O motor vai aceitar a cachaça. Será necessário ajustar o motor, porém, como o problema é a falta de gasolina, precisamos encontrar outra coisa para misturar com a bebida. Querosene, talvez...]"

Não sei vocês, mas meus heróis brasileiros são desse nível. 

Para ler mais:
Rodovia Panamericana na Wikipedia
Carretera Panamericana em miniford.com.br
Livro "Eu não sabia que era tão longe" no site do autor Osni Ferrari.
Revista Veja – 06/04/2011 – Matéria: Os três pioneiros – Diogo Schelp

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