sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Asas do Desejo - Um cult de Wim Wenders


Piramyd Song - Radiohead - feito com cenas do filme

Asas do Desejo, ou "Der Himmel über Berlin - O Céu Sobre Berlim, filme de Wim Wenders de 1987, é um cult de divisões. Da Alemanha ainda dividida, da riqueza e pobreza nas ruas de Berlin, nos Anjos e humanos. Uma das coisas que gosto nesse filme é a divisão explorada não em diálogos. Esses beiram a perfeição, iniciando pelo clássico poema de Peter Handke, (que transcrevo no final deste post) aos diálogos entre os Anjos Damiel e Cassiel. As divisões são dadas pelo que o cinema pode dar de melhor. Luz, sombra, cor, som, numa viagem para dentro dos personagens. É assim que é mostrado a vida do Anjo Damiel. Ele, como anjo, não pode sentir texturas, sabores, nem dor, nem paixão. Assim, todas as cenas com anjos são mostradas em uma espetacular fotografia em preto e branco, com planos em pontos de Berlin que beiram a uma fotografia gótica. Já os humanos não. Eles vêem cores, sentem cheiros, sabores. E Damiel se apaixona pela bela trapezista Marion, humana, que ele tenta em vão tocar, sentir. É quando descobre que pode cair, se tornar humano. E assim Damiel se torna um Anjo Caído, e assim, mortal. Antes de qualquer mal, é uma celebração do amor, de um ente dono da eternidade, livre de todos os males humanos, da miséria, da fome, da dor, da tristeza, mas que, acima de tudo, decai pela mais nobre qualidade humana, o amor.



Lied vom Kindsein - Peter Handke

Als das Kind Kind war,
ging es mit hängenden Armen,
wollte der Bach sei ein Fluß,
der Fluß sei ein Strom,
und diese Pfütze das Meer.


Als das Kind Kind war,
wußte es nicht, daß es Kind war,
alles war ihm beseelt,
und alle Seelen waren eins.


Als das Kind Kind war,
hatte es von nichts eine Meinung,
hatte keine Gewohnheit,
saß oft im Schneidersitz,
lief aus dem Stand,
hatte einen Wirbel im Haar
und machte kein Gesicht beim fotografieren.


Als das Kind Kind war,
war es die Zeit der folgenden Fragen:
Warum bin ich ich und warum nicht du?
Warum bin ich hier und warum nicht dort?
Wann begann die Zeit und wo endet der Raum?
Ist das Leben unter der Sonne nicht bloß ein Traum?
Ist was ich sehe und höre und rieche
nicht bloß der Schein einer Welt vor der Welt?
Gibt es tatsächlich das Böse und Leute,
die wirklich die Bösen sind?
Wie kann es sein, daß ich, der ich bin,
bevor ich wurde, nicht war,
und daß einmal ich, der ich bin,
nicht mehr der ich bin, sein werde?


Als das Kind Kind war,
würgte es am Spinat, an den Erbsen, am Milchreis,
und am gedünsteten Blumenkohl.
und ißt jetzt das alles und nicht nur zur Not.


Als das Kind Kind war,
erwachte es einmal in einem fremden Bett
und jetzt immer wieder,
erschienen ihm viele Menschen schön
und jetzt nur noch im Glücksfall,
stellte es sich klar ein Paradies vor
und kann es jetzt höchstens ahnen,
konnte es sich Nichts nicht denken
und schaudert heute davor.


Als das Kind Kind war,
spielte es mit Begeisterung
und jetzt, so ganz bei der Sache wie damals, nur noch,
wenn diese Sache seine Arbeit ist.


Als das Kind Kind war,
genügten ihm als Nahrung Apfel, Brot,
und so ist es immer noch.


Als das Kind Kind war,
fielen ihm die Beeren wie nur Beeren in die Hand
und jetzt immer noch,
machten ihm die frischen Walnüsse eine rauhe Zunge
und jetzt immer noch,
hatte es auf jedem Berg
die Sehnsucht nach dem immer höheren Berg,
und in jeder Stadt
die Sehnsucht nach der noch größeren Stadt,
und das ist immer noch so,
griff im Wipfel eines Baums nach dem Kirschen in einemHochgefühl
wie auch heute noch,
eine Scheu vor jedem Fremden
und hat sie immer noch,
wartete es auf den ersten Schnee,
und wartet so immer noch.


Als das Kind Kind war,
warf es einen Stock als Lanze gegen den Baum,
und sie zittert da heute noch.
Canção da Infância - Peter Handke

Quando a criança era criança,
não sabia que era criança,
tudo era cheio de vida e
a vida era uma só!


Quando a criança era criança,
não tinha opinião,
não tinha hábitos,
sentava de pernas cruzadas,
saia correndo,
usava um topetinho e
não fazia caretas pra fotografias!

Quando a criança era criança,
era o tempo destas perguntas:
Porque eu sou eu e não você?
Porque estou aqui e por que não lá?
Quando começou o tempo, e
onde termina o espaço?
Será que a vida sob o sol
nada mais é que um sonho?
Será que o que vejo, escuto e cheiro
não é que é uma miragem do mundo
anterior ao mundo?

Será que o mal existe mesmo e
pessoas realmente más?
Como pode? Eu que sou eu,
não existia antes de existir e
que alguma vez eu,
aquele que sou não serei mais quem sou?

Quando a criança era criança,
refugava espinafre, ervilhas,
pudim de arroz e couve-flor.
Agora come tudo e
não só porque precisa.

Quando a criança era criança,
acordou numa cama estranha, e
hoje em dia sempre
muitas pessoas pareciam bonitas outrora.
Hoje muito raramente.
Só com sorte.
Tinha uma visão precisa do paraíso,
agora só pode adivinhar.
Não conseguia imaginar o nada,
hoje treme ao pensar.

Quando a criança era criança,
jogava com entusiasmo.
Agora só se entusiasma
quando seu trabalho está envolvido.

Quando a criança era criança,
vivia de maçãs e pão
era suficiente e ainda é assim.
Quando a criança era criança
as framboesas caíam em suas mãos e
ainda é assim.
Nozes deixaram sua língua áspera, e
ainda o fazem.
Chegando ao topo de cada montanha,
queria outra mais alta.
Em cada cidade
procurava outra maior.
E ainda o faz.

Subia nas árvores para colher cerejas.
Era tímido diante de estranhos, e
ainda o é.
Aguardava a primeira neve e
ainda a aguarda da mesma forma.
Quando a criança era criança,
arremessou uma lança de madeira contra uma árvore.
Ainda balança na árvore até hoje.















Se você pensou em Nicolas Cage e "Cidade dos Anjos", pensou corretamente. É uma refilmagem comercial de péssima qualidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

// // //